As ultrapassadas idéias masculinas de conquista feminina acabam gerando relacionamentos cada vez mais superficiais e vinculados a processos cognitivos e intuitivos dignos de analogia aos estados de percepção de minerais e protozoários. Relacionamentos que surgem através de ilusões do subconsciente são cada vez mais comuns. Surge então a “inteligência” masculina que cria “técnicas” e “táticas” de conquista onde, por um viés ou outro, dizem a si mesmos o que as mulheres querem e entre uma destas “táticas” se encontra a questão do fazer a diferença. O palco musical, que mesmo possuindo poucos centímetros além do chão, coloca uma pessoa em condição “superior” à outra, que cria o antagonismo artista/público e que separa os músicos dos outros, que ao juntarem-se no nada dariam ao músico um estado de diferenciação perante os outros. Os homens pensam que esta posição de diferença atrai as mulheres.
Aparecem então os milhares de homens que entrando em desespero e pânico movem mundos, fundos e fundilhos com o escopo de ser um destes músicos. Não tendo nada dentro de si para mostrar precisam do exterior, da imagem e do que representam para ao menos ter uma chance de pegar alguém. “Ao menos ter uma chance”, porque há caras que nem com banda conseguem pegar alguma coisa. Este tipo de situação, quando se está na adolescência e a personalidade ainda em formação, até se entende, mas quando a vida começa a andar e o cidadão continua na mesma, há de se parar e pensar no que está se fazendo com a própria vida. Há homens que ao conhecer uma mulher a primeira coisa que falam é sobre sua banda. “Olá, eu tenho uma banda”, “Olá, eu tenho uma banda e nós vamos tocar sábado que vem lá no boteco do Jon e você está convidada, se quiser ir é só chegar lá e dizer que me conhece”.
Os cidadãos conhecem a guria no dia e já convidam para assistir o ensaio da banda. Não conseguem falar nada que não seja sobre sua própria banda. A única coisa que têm para tentar cativar a mulher é a banda e se não tivessem a banda não teriam nada, não seriam ninguém. Toda a sua insinuação se faz no fator banda, no fator de centímetros acima dos outros e na direção de olhares por alguns minutos. Se autoestereotipam como sendo “o cara de banda” e se contentam com isso, pois a mediocridade é esquecida pela esperança de conseguir algo com uma mulher. Não existem auto-análise e senso crítico a ponto do cara mesmo se avaliar: “Mas será que eu só tenho isto para mostrar?”, “Será que o que eu sou se resume à uma banda?” e o principal: “O que eu seria sem banda?”.
Se existem mulheres que apenas se interessam por caras de banda não seria o caso do homem perguntar a si mesmo se realmente está perdendo alguma coisa ao não estar com uma mulher assim? Pois certamente uma pessoa que cria “tipos” não tem o espírito livre para se deixar guiar pelo seu Eu verdadeiro, que acaba não se manifestando pois a pessoa mesma negligencia o que tem de mais importante: o instinto. Se dizem livres, mas criam “tipos” de gostar; “tipos” que representam seu estado de mero produto do meio. Seu “tipo” surge por influência. A insegurança, o desconhecimento de si e a baixa-estima obstruem a expressão do próprio Eu, que necessita desfocar para que não seja visto e uma banda atende a este fim. Quando o homem se mostra como o músico ele não precisa mostrar quem realmente é. A autoestereotipação fala por si.
Tudo aquilo que o homem é (ou não) não precisa ser expresso quando ele se mostra como “o cara da banda” (isso tudo surgindo da premissa que as mulheres querem homens que se destacam). Entretanto, a situação acaba por desembocar em um verdadeiro circo na medida em que uma premissa falsa conduz à uma conclusão falsa (lógica aristotélica) e o homem acaba se tornando um palhaço, pois nem todas as mulheres se deixam iludir por uma simples casca, a de músico. Nem todas as mulheres se interessam por um homem só porque ele tem uma banda, assim como nem todas as mulheres se deixam levar por este papo de “a minha banda” e quando estes caras se insurgem com este papo elas tendem a ouvir, mas com um profundo sentimento de escárnio achando patético o assunto e enquanto o cara fica ali horas e horas falando da sua banda galáctica que toca o incrível Paranoid, o sensacional Roadhouse Blues e o inédito Enter Sandman, elas riem por dentro.
O cara acaba servindo de mero bobo de corte tanto paras as mulheres como para os amigos delas (o bom é você estar com amigas e presenciar isso tudo, quando surgem estes caras chavecando com este papo e elas apenas concordando e se mostrando interessadas com palavras vazias e olham pra você rindo e você sabe do quê). A moral como representante do processo evolutivo de uma sociedade se adequa ao comportamento social e talvez já esteja na hora dos caras de banda perceberem que este papo de “Oi, eu tenho uma banda” já não faz muito a cabeça das mulheres e que a sociedade, seguindo uma lei natural de evolução, vai exigir mais das pessoas do que isso. As mulheres já não se contentam mais com o simples fato do cara ter uma banda e o homem que ainda pensa assim e se porta achando que isto é o suficiente torna-se mera atração de circo para o escárnio da mulher inteligente que o vê fazendo papel de tolo ao pensar que ela iria querer algo com ele só por ele ter uma banda.
Um homem não perde nada ao não ficar com uma mulher que só se interessa por caras de banda e que apenas enxerga um homem como um rótulo, “o cara de banda”. Um homem de verdade não é apenas a sua banda e uma mulher que valha à pena sabe disso. Ao homem resta a auto-análise e autocrítica e tentar transcender a mediocridade de apenas ser “o cara de banda” para que possa evoluir como sapiens sapiens e pensar sobre o que seria e o que teria para mostrar sem sua banda. Questionar a si mesmo se a mulher que se mostra interessada por ele também se interessaria caso ele não tivesse banda. Para isso é preciso coragem, pois a resposta pode não ser agradável na maioria dos casos. Ter banda é legal, mas depender de banda para pegar mulher é decadente.
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