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Rudy Rafael

E andando para as críticas construtivas

A sociedade condiciona as pessoas desde cedo a serem boas, seguir aquilo que alguém definiu como “ser bom”, não serem más e não fazer aquilo que alguém também definiu como ser “ruim”. As pessoas cumprem horários, rotinas, trabalham, pagam impostos, votam, compram, obedecem as leis que criaram para elas, vivem a vida que querem que vivam e sempre buscando ser “boas”. São inspiradas a serem boas e politicamente corretas mas ninguém inspira uma pessoa a ser verdadeira. São criadas para expressarem com palavras e gestos aquilo que nem sempre sentem, tudo com o objetivo de serem “boas” e uma das formas mais nauseantes destas máscaras é a falsa aceitação de críticas onde as pessoas fingem se importar com o que os outros dizem para não demonstrarem “arrogância” e “egocentrismo” e posarem de “humildes”.

Precisam parecer que se importam com a opinião dos outros mas não se importam e então precisam de um meio para fazer parecer que se importam. Sabendo disso, a sociedade utilizando-se do politicamente correto cria mais uma forma de parecer ser o que não é, onde as pessoas que se acham perfeitas, que acham que tudo que fazem é perfeito, tentam não fazer transparecer isso onde dizem que “aceitam críticas construtivas”. Ninguém aceita críticas, todo mundo acha que é perfeito, todo mundo acha que tudo que faz é perfeito, ninguém quer mudar mas isso ficaria feio em dizer para os outros, soaria “arrogante” e “egocêntrico”, então, dizem que “aceitam críticas construtivas”.

“Críticas construtivas” nada mais são que um meio criado para a pessoa que está c* e andando para o que o outro pensa fazer parecer que se importa com a opinião dos outros sobre si. A pessoa precisa dizer que aceita críticas mas não vai dar valor a elas, então, diz que “aceita críticas construtivas” pois quem vai definir o que é “crítica construtiva” ou não é ela mesma e naturalmente que não vai levar em consideração o que foi dito. Ela suporta ouvir o outro fazer um comentário, uma crítica e tenta fazer parecer que por ter ouvido a crítica ela é uma pessoa “humilde” sendo que no fundo, dentro de si, ela não dá a mínima para o que esta pessoa falou. Ela vai ouvir aquilo e vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. Como a sociedade vive de aparências é isto que importa: fazer parecer que é, preferem um falso humilde do que um verdadeiro arrogante.

Ninguém, por mais que não ligue absolutamente nada para as críticas que recebe dos outros, chega e diz: “Olha, eu sou uma pessoa que se acha perfeita, não tenho intenção de mudar, não há nada que você diga que vai me fazer mudar de opinião e mudar quem eu sou”, mas todos dizem “aceito críticas construtivas”. Seria muito feio chegar para os outros e dizer que não aceita críticas, então, é só fingir que se importa com o que os outros dizem. Como as pessoas são totalmente dominadas pela razão, não sabem sentir, elas engolem aquilo. “Óh, que pessoa bacana, ela ouviu as minhas críticas, ela é tão humilde”, mesmo que por dentro seu Ego tenha negado tudo aquilo que foi dito, mesmo que a partir daquele momento ela até crie um sentimento de rejeição por esta pessoa que a criticou e sua relação com ela mude, pois muitas relações mudam quando uma pessoa critica a outra.

Ninguém quer ser criticado, ninguém quer mudar, todos se acham perfeitos e fazer uma crítica a alguém só porque esta pessoa disse que “aceita críticas construtivas” é ingenuidade, pois é muito, mas muito difícil, tão difícil que em proporção não compensa, que alguém mude por uma opinião de outra pessoa e isto só tenderá a criar atritos em relacionamentos, esfriando-os. Se a sociedade criasse e educasse as pessoas para serem verdadeiras ao invés de serem boas talvez esta nauseante hipocrisia de dizer que aceita críticas construtivas não existiria e as pessoas seriam mais verdadeiras e diriam diretamente que não se importam com o que os outros pensam, pois se não se importam com o que os outros pensam também não deveriam se importar em não parecer arrogantes e egocêntricos ao dizer que não se dão valor às críticas.

Não seríamos necessariamente bons, mas seríamos verdadeiros. Ser “bom” de maneira artificial não evolui em nada a ninguém pois não tem consciência e livre-arbítrio no ato, mas ser verdadeiro sim. Enquanto as pessoas ficarem forçando a barra para serem boas irão esconder e adormecer seus defeitos, que se não à mostra continuarão ali, escondidos, apenas esperando uma hora para aparecer. Se colocassem isso pra fora, o conheceriam e aprenderiam a transcendê-lo, ao invés de apenas embrulhar, colocar pra dentro e ficar mostrando uma faceta de “humilde que aceita críticas” e que só causa náuseas pra quem percebe. É melhor ter honestamente qualidades e defeitos do que artificialmente só qualidades. Muito pior do que se achar deus e não aceitar críticas é não aceitá-las e fingir que se importa com o que o outro pensa.

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