Quando se fala em dinheiro sempre surgem os eternos blás. “Dinheiro não traz felicidade”, “Dinheiro não traz felicidade, mas compra” e etc. Sempre aparece todo tipo de gente pra falar da importância ou não do dinheiro e até quando é importante, mas disso todo mundo já está de saco cheio de ouvir falar. Todo mundo sabe que dinheiro é bom, que é preciso ter para poder viver e todo mundo sabe que algumas coisas não conseguem se fazer com dinheiro; então, não é esta a questão agora.
O que evoco é a atmosfera de imbecilidade que o dinheiro cria. As pessoas são absolutamente, conscientemente ou não, valoradas pelo que tem e não pelo que são. As pessoas respeitam, obedecem e veneram mais o que tem mais e menos o que tem menos. Infelizmente é assim e é assim que funciona. A maior oratória do mundo não se consegue através de cursos, treinamento, estudos ou qualquer coisa, mas pelo dinheiro. A pessoa que tem o melhor carro tem um poder na palavra, a que não tem, tem outro.
A palavra da pessoa que tem posses vale mais e tem mais peso do que a que tem menos, independente do que se diga. As pessoas acabam como abelhas sendo guiadas por instinto se aproximando das pessoas que tem dinheiro e posses como quem querendo “pegar um pouco do mel”. Não que irão querer algo, mas instintivamente elas sabem que devem ficar “por ali”, perto das que tem dinheiro, como quem espera que algo possa acontecer; uma conduta absolutamente bestial e não guiada por qualquer forma de consciência.
A pessoa que tem dinheiro pode falar o que quiser, as coisas mais inúteis e absurdas do mundo que sempre terá palco. O seu dinheiro serve como ponto de magnetismo que atrai os outros e as pessoas, como bestas, se aproximam sem saber porque mas ficam perto destas pessoas puxando o saco destas e de tudo que faça parte da vida desta pessoa. Às vezes as pessoas preferem ouvir um rico falar sobre coisas fúteis e sobre pessoas do que trocar uma idéia com alguém que seja mais pobre. Isto é instintivo, pensam que por estar com alguém com dinheiro podem “absorver o mel”. Pensam que é melhor dar ouvidos a quem tem dinheiro do que perder tempo com quem não tem.
A verdade não está em quem diz mas no que é dito assim como a sabedoria. Se Jesus, Ghandi ou Buda tivessem dito que um triângulo é um polígono de 5 lados isto não seria verdade da mesma forma que se o maior criminoso violento disser que um quadrado tem 4 lados isto não será mentira. A verdade é o que é e não está em quem diz. Não é porque uma pessoa tem dinheiro que ela tenha mais sabedoria que outra e não é porque uma pessoa não tenha nada que saiba menos. É preciso analisar o caso em si, mas muitas vezes quando os pobres estão reunidos ouvindo os ricos falar estão ouvindo coisas absolutamente imprestáveis e inúteis que não servem para nada nem ninguém.
Surgem as falsidades, pois o pobre que quer tirar proveito da presença com o rico nunca vai ser 100% sincero e honesto e dizer o que realmente pensa e surge o pacto de imbecilidade: o pobre que finge que sente pelo rico o que diz e o rico que finge que acredita que o pobre sente aquilo pelo que ele é e não pelo que ele tem. Não que seja sempre assim, pois há ricos sábios e tolos e pobres sábios e tolos, mas, a priori, o rico é sempre o orador, é sempre o que fala, o que tem mais poder na palavra e os mais pobres sempre irão ouvir pois o dinheiro dá respeito e poder.
Cria-se a atmosfera de imbecilidade: de um lado os que rodeiam o rico, inconscientes ou não, apenas por esta pessoa ser rica e de outro, o rico que se aproveita desta situação para engrandecer o seu Ego. Às vezes uma pessoa sem posses tem muito mais lição de vida e palavras úteis a dar do que uma pessoa com posses. Quando ouvimos alguém falar, devemos nos perguntar: “Ouço-a pelo que ela diz ou pelo que ela é?” e quando falamos devemos nos perguntar: “Ela me ouve pelo que eu digo ou pelo que eu tenho?”. Quando ouvimos às pessoas devemos nos ater ao que é dito e não a quem diz.
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