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  • Rudy Rafael

O complexo de castração não sublimado em maçons subservientes a graus superiores

Atualizado: 21 de mai. de 2023

“O que é a maçonaria?” é um dos questionamentos mais comuns tanto entre não-maçons quanto em maçons e apesar de que haja intermináveis, exaustivas, monótonas e inconclusivas pretensas respostas para esta pergunta a resposta é muito simples: a maçonaria é aquilo que os maçons disserem que ela é, assim como todo grupo é aquilo que as pessoas disserem que ele é. Se os maçons disserem que a maçonaria é uma ONG que tem como objetivo distribuir alimentos aos pobres, a maçonaria será uma ONG que tem como objetivo distribuir alimentos aos pobres. Se os maçons disserem que a maçonaria é uma ordem iniciática que tem como objetivo auxiliar o maçom em seu processo de autoconhecimento, a maçonaria será uma ordem iniciática que tem como objetivo auxiliar o maçom em seu processo de autoconhecimento. Tudo sempre dependerá do que os maçons escolherem dizer que é a maçonaria.

Como a maçonaria é aquilo que os seus membros disserem que ela é, de mesma forma os conceitos maçônicos são cultivados e perpetuados conforme os maçons os dizem. Se os maçons disserem que lapidar a pedra bruta significa obter um diploma de graduação, vencer uma partida de tênis, assar um bolo, abrir um negócio ou cantar “Parabéns” em alemão, obter um diploma de graduação, vencer uma partida de tênis, assar um bolo, abrir um negócio e cantar “Parabéns” em alemão significará lapidar a pedra bruta. Se os maçons disserem que lapidar a pedra bruta significa o que realmente significa, lapidar a pedra bruta significará o que realmente significa. O grande segredo sobre “O que é a maçonaria?” é fácil de compreender: a maçonaria é o que os maçons disserem que ela é e neste ponto basta analisar o nível de evolução espiritual da maioria de seus membros para visualizar o que a maçonaria é no presente.

Os princípios e conceitos maçônicos estão sendo deturpados com o tempo, tanto em razão da falta de inteligência daqueles que não os compreendem quanto pela má-fé daqueles que os deturpam por interesses próprios, de fato fazendo com que tenha sido instaurada a permacultura da ignorância dentro da própria maçonaria através de um sistema de retroalimentação onde um alimenta o outro com deturpações. É o caso daqueles que na ânsia de controle e poder absoluto sobre seus irmãos maçons deturpam a sabedoria do calar através da roupagem da omissão, da apatia e do silêncio, fazendo com que maçons passem a acreditar que se omitir, ser frouxo e calar a boca é o mesmo que querer ousar querer calar, quando não é. Uma coisa é escolher calar para não entregar pérolas aos porcos, outra coisa é aceitar como gado tudo que lhe é imposto e não cabe ao maçom aceitar como gado tudo que lhe é imposto.

Como a maçonaria é o que os seus membros disserem que ela é, a partir do momento em que se cria uma cultura de gado onde aceitar tudo sem questionar e sem sequer refletir significa ter alcançado a sabedoria do calar, ser gado e aceitar tudo sem questionar e sem sequer refletir passa a significar ter alcançado a sabedoria do calar e assim a estrutura de subserviência aos graus superiores, que de fato representa a manutenção da estrutura onde há quem mande e há quem obedeça, se cultiva eternamente através da deturpação do conhecimento esotérico da sabedoria do silêncio. Isso dá forças à estrutura paternalista que é cultivada na maçonaria e facilita ainda mais o aflorar de transtornos mentais não sublimados da fase da infância, como o complexo de castração. A maçonaria não tem como evitar que pessoas com transtornos mentais iniciem na ordem, mas pode evitar tornar-se uma propulsora de transtornos mentais.

A maçonaria, como toda ordem iniciática, possui graus e esse sistema de ensinamentos também foi deturpado pelos homens de forma a se criar uma falsa hierarquização entre seus membros que de fato resulta em um “cala boca” dos membros de graus superiores aos membros de graus menores. Existe uma subserviência, que beira ao espírito do escravagismo, dos graus menores aos graus superiores no sentido de verem seus irmãos de graus superiores como verdadeiros Senhores dotados de toda a sabedoria do Universo, o que de fato não apenas não representa a realidade como pode vir a representar uma falha no desenvolvimento do aparelho psíquico do maçom, que acaba manifestando a não sublimação adequada do complexo de castração que ocorre na infância abordado pela psicanálise. A subserviência aos graus superiores pode conter transtornos mentais que podem gerar danos ao maçom.

Segundo a psicanálise, o complexo de castração ocorre na infância na chamada “fase fálica”, onde o menino se dá conta de que possui um pênis e as meninas não. O menino pensa, então, que todas as pessoas deveriam ter um pênis e que se as meninas não o possuem é porque lhes foi retirado. O menino começa então a se angustiar pela ameaça à perda de seu próprio pênis em decorrência da não obediência às normas impostas pela sociedade que lhe são vistas através da figura paterna do pai. O menino, tomado de narcisismo por ter um pênis que a menina não tem, passa a ter medo que o pai possa lhe cortar o pênis caso infrinja as leis – normas sociais que reprimem, como a proibição ao incesto e ao toque erótico na região genitália. Em um momento de descobrimento da própria genitália e com o complexo de Édipo se manifestando isso gera muita angústia no menino – o medo de perder o pênis assim como a menina perdeu.

Entretanto, esse medo de castração é sublimado com o tempo a ponto de desfazer-se, pois o menino uma hora compreenderá que pessoa alguma irá lhe retirar o pênis e ele não precisa ter mais medo disso. Esse é o processo sadio de desenvolvimento psíquico de cada pessoa: não deixar de ter problemas, mas passar por eles de forma consciente, racionalizando as repressões e não mais descarregando em seu corpo físico a libido relacionada à pulsão que foi reprimida. Ocorre que nem todas as pessoas conseguem sublimar todas as suas repressões e podem inclusive depois de adultas revisitar sua infância, seu Inconsciente e suas angústias, de forma inclusive a somatizar essa energia psíquica em doenças corporais. A repressão e o não fazem parte da vida e a grande questão é como o aparelho psíquico do indivíduo processa o conteúdo reprimido e os “nãos” da vida.

O maçom que não sublimou de forma satisfatória sua fase de complexo de castração pode continuar com o medo do pai, cuja figura no caso transfere-se para os seus irmãos maçons de graus superiores que passam então a representar seu pai e trazem consigo a ameaça da castração, pois possuem o poder de lhe repreender e assim como na fase do complexo de castração o medo de ser repreendido com a castração do pênis está ligada ao narcisismo de perder o pênis, na fase adulta o medo de ser repreendido por um irmão maçom de grau superior está ligado ao narcisismo de ser repreendido e ter seus defeitos expostos ao grupo de maçons. Assim o maçom passa a aceitar tudo o que seus irmãos de graus superiores lhe dizem, mesmo que digam coisas erradas e este é também um motivo pelo qual o transtorno no aparelho psíquico pode causar danos na vida do maçom adulto.

Quando o maçom, por medo de ser repreendido por seu pai (seus irmãos de graus superiores), passa a renegar o seu verdadeiro Eu, ele deixa de participar do processo de evolução que a maçonaria lhe proporciona, pois quando ele renuncia a expressão do seu Eu ele renuncia o trabalhar em seu próprio Eu. O maçom então esconde o seu verdadeiro Eu dentro de si, não o traz à tona e com isso deixa de trabalhar nele, tudo isso em razão da não sublimação do seu complexo de castração. É o caso onde o maçom reduz sua vida na maçonaria a puxar o saco dos membros de graus superiores, seja com ações (atitudes) ou omissões (calando-se), buscando seus aplausos, elogios e afagos assim como o menino busca por parabenizações do pai ao fazer “o que é certo”, como fazer cocô no vaso sanitário ao invés de fazer nas calças. O maçom precisa desenvolver a maturidade psíquica para ser livre.

O maçom adulto que se regozija com aplausos, elogios e afagos de seus irmãos de graus superiores, renunciando ao seu próprio Eu, tanto em condutas de ação como de omissão, pode vir a estar passando por um transtorno mental decorrente de uma não sublimação completa do complexo de castração que lhe ocorreu na infância. O menino busca obedecer ao pai porque pensa que o pai irá lhe retirar o pênis, mas quando o menino percebe que isso não irá ocorrer ele sublima esse medo. Entretanto, se o menino não sublima satisfatoriamente esse medo que tinha, esse medo pode voltar na fase adulta fazendo com que se torne um maçom que viva buscando por aplausos, elogios e afagos de seus irmãos de graus superiores, buscando por seu reconhecimento assim como o menino busca pelo reconhecimento de seu pai, mas é preciso compreender que eles não são seus pais para que se viva deles buscando aprovação.

A não sublimação de qualquer repressão ao Inconsciente, como a não sublimação do complexo de castração, pode gerar efeitos devastadores na vida de uma pessoa adulta, como a pessoa deixar de expressar o que realmente pensa e sente e liberar essa energia psíquica de medo de ter seu narcisismo ferido em seu próprio corpo físico, vindo a gerar manifestações corporais indesejáveis e involuntárias, como a pessoa que pisca muito intensamente, que sabe que pisca muito intensamente e que desejaria não piscar tão intensamente. O tratamento psicanalítico é um tratamento para quem tem coragem de olhar-se no espelho. Nem todos têm a coragem de se olhar no espelho e ver que ali há um covarde com medo de expressar o que pensa e sente e é mais fácil mentir para si mesmo que cala por ser “sábio”. “Ah, ele se cala porque é sábio”; não, ele se cala porque tem medo de falar.

Seja em razão da não sublimação do complexo de castração, seja pelo narcisismo de quem não quer ser repreendido ou pelo simples medo em geral, é preciso que o maçom que adote uma postura de subserviência a seus irmãos maçons de graus superiores busque conhecer-se a si mesmo para compreender os reais motivos que o levam a ser tão subserviente a seus irmãos de graus superiores. Assim como o pai não irá cortar o pênis do filho se o filho desobedecê-lo os irmãos maçons de graus superiores não irão causar mal algum a algum irmão de grau menor se ele não for e não fizer aquilo que eles querem que ele seja e faça. Esse é um medo que não encontra lastro real na realidade. O irmão maçom de grau superior não é o pai que diz ao filho que não quer ouvir mais nenhum pio e faz o menino angustiar-se pelo medo de errar com o pai. Na maçonaria irmãos são irmãos, não pais.

Para resolver o complexo de castração não adequadamente sublimado que pode vir a aflorar em alguns irmãos maçons é preciso não apenas que o maçom busque autoconhecer-se, o que poderia ser feito através do tratamento psicanalítico, como também é preciso que os falsos ídolos dentro da maçonaria comecem a ruir. Irmãos maçons de graus superiores não são ídolos a serem adorados como detentores da sabedoria suprema do Universo e da própria maçonaria, assim como também não são pais que possam vir a cortar o pênis de alguém e ferir-lhe o narcisismo. Maçons de graus superiores são apenas pessoas que cumpriram mais rapidamente os requisitos maçônicos para ascender de grau, sem que sequer isso signifique que tenham mais conhecimento sobre maçonaria ou qualquer outra coisa. Há pessoas que têm a necessidade de obter graus na maçonaria para lhes preencher, satisfazer, proporcionar ou viabilizar algo.

O homem que é escravo de aplausos, elogios e afagos não é livre em si mesmo e a maçonaria, como toda ordem iniciática, deve ser um caminho de libertação, não de escravidão. Ninguém deve entrar na maçonaria para ficar refém de aplausos, elogios e afagos, mas deve entrar na maçonaria para aprender a se tornar um ser humano melhor e um ser humano melhor é alguém totalmente livre e independente que não troca a sua primogenitura (consciência) por um prato de lentilhas (aplausos, elogios e afagos). O maçom deve ser livre para não ficar refém de qualquer comentário externo, sejam aplausos ou vaias, elogios ou críticas ou afagos ou descarinhos. O maçom não deve rolar no chão faceiro como um cachorrinho quando lhe jogam os biscoitinhos dos aplausos, dos elogios e dos afagos, o maçom deve sempre estar de pé. Aqueles que falam engrandecem o calar dos que ouvem.

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