É sabido que o Mega Drive levou uma boa e constante surra do Super Nintendo em todo o tempo que durou a console war dos 16 bits. Anos amargurando o contrato de exclusividade da Capcom com a Nintendo, jogadores de Mega sonhando e tendo espasmos com Street Fighter II, o áudio tacanho condenando as adaptações dos arcades, no Brasil a dependência exacerbada da Tec Toy e tudo sempre escondido pela propaganda da velocidade do processador; como se mover um bichinho guti guti bem rápido compensasse o silêncio de hadoukens e shoryukens. Era o tempo em que a arte criativa esculhambava geral com a esquizofrênica fixação por gráficos, os critérios dos jogadores eram outros e um jogo não era considerado melhor que outro só pela imagem.
A Sega, mesmo sempre estando um passo atrás em estratégia, como o erro crasso do Sega CD, e hardware, dominava bem a arte de segurar a peteca e fez o que nenhuma empresa jamais conseguiu fazer com um console: jogar efetivamente um console de geração anterior na guerra atual e dividir o mercado. Apesar do Master System ser de 8 bits, e obviamente não ter processador para participar da guerra dos 16, seu papel nesta época merece o reconhecimento de qualquer cidadão que não mexia os joysticks dos 8 e 16 bits para os lados esperando que o personagem se movesse e para cima achando que iria pular. O Mega não teve força o suficiente para desbancar o Master assim como o Super teve pra tirar de cena o Nintendo.
A surra que o Mega Drive levou do Super Nintendo é compreensível. Toda geração tem um console que apanha do rival, como atualmente o Xbox 360 apanha severamente do Playstation 3. Esta surra que o Mega levou na console war dos 16 bits é aquela que todo mundo sabe que teve mas resolve ficar em cima do muro e não se posicionar por um tipo de respeito à história do console, da mesma forma como tem gente que respeita The Doors e acha que The Doors fazia música. Porém, não há respeito algum no mundo que possa não só negar que o Mega apanhou muito do Super Nintendo como também levou uma grande sova do seu console irmão, o Master System. Dividir mercado com um console da mesma geração até vai, mas com um da anterior é feio demais.
Mesmo o Mega Drive tendo especificações técnicas melhores que o Master System, o que nada mais era do que sua obrigação por ser de geração posterior, tendo o dobro do número de bits, ainda assim conseguiu a proeza de apanhar feio do Master em muitos jogos. De um lado o Mega levava pau do seu rival, do Super Nintendo através dos exclusivos e das melhores adaptações, de outro apanhava até mesmo de seu irmão, o Master, através daquilo que mais faltou entre os consoles: o abismo entre as gerações. Naquilo que o Mega deveria ser imensuravelmente melhor que o Master não era, além de ser pior em muita coisa. O Super Nintendo fez esquecer o Nintendo, mas o Mega Drive não fez esquecer o Master System. Deveria ter feito, era a sua obrigação na escala evolutiva do progresso tecnológico, mas não fez.
Alex Kidd in Miracle World, uma unanimidade; in the Enchanted Castle, a maestria da falta de carisma em todos os aspectos. Castle of Illusion do Master, uma aula de desafio; do Mega, contagem regressiva para o final. Phantasy Star do Master, o avatar de uma nova era; do Mega, total descontrole da Sega, não sabiam o que fazer e ficou bem claro. Ghouls´N Ghosts do Master, uma gloriosa mecânica de jogo através da evolução; do Mega, mera adatpação. Sonic do Master, único por si só e que não deve em nada e ainda supera fabulosamente a versão do Mega na trilha sonora. Mortal Kombat do Master, uma grande surpresa; do Mega, não fosse a propaganda do sangue a grande decepção que foi estaria em evidência. Golden Axe do Master tem dificuldade muito maior que o do Mega.
Ninja Gaiden do Master, o melhor já feito; do Mega, o pior, trilha sonora patética, beat´em up desqualificando totalmente o jogo. Jogos de Verão do Master, clássico; do Mega, fracasso. Lucky Dime Caper, sistema de ataques perfeito; Quackshot, ataque lenga-lenga. O Master teve Wonder Boy simplesmente com o in Monster Land como Mônica no Castelo do Dragão e o Mega aquela coisa que todo mundo sabe do in Monster World. Street Fighter II do Master fez todo mundo se admirar; do Mega, à exceção dos fanboys descontrolados que não enxergam a realidade, qualquer um percebe a gritante falta de qualidade do jogo. As esperas no Mega sempre foram frustrantes, enquanto as do Master sempre surpreendentes; mesmo que, qualquer um que tivesse ciência das especificações técnicas do Mega Drive, especialmente em relação ao áudio, soubesse que não daria pra esperar muito mesmo.
Não bastasse a extensa lista de jogos em que o Master System bateu muito no Mega Drive, ainda há o quantum das versões de 8 bits que não ficaram devendo em nada ou muito pouco para as versões de 16 bits. As versões do Mega deveriam obrigatoriamente, pela capacidade do console e por seu status de disputar a console war com o Super Nintendo, terem passeado em comparação às do Master, mas não foi isto que ocorreu. Versões do Master de jogos como Super Monaco GP, After Burner, Space Harrier, Altered Beast, Out Run, The Secret Of Shinobi, Strider, Moonwalker, Taz Mania e Chuck Rock entre tantos outros mostram porque o Master continuou dividindo o mercado na console war de 16 bits. O console que deveria ter sido esquecido não foi e o que deveria ter feito a brutal diferença não fez.
Quando os jogos tinham que se manter mais pelo que eram em essência do que pelo apelo do nome da franquia e quando as softhouses sabiam que o público iria exigir mais do que as mesmas engines com personagens e cenários diferentes, como é atualmente, o Master System fez história, assim com o Mega Drive também fez. O Mega foi o único console a dividir espaço real com seu antecessor e o Master o único a bater de frente com o seu sucessor. A aproximação do Mega com o Master e o abismo entre o Super Nintendo e o Nintendo já são suficientes para acabar com qualquer dúvida sobre os resultados das console wars da 3ª e da 4ª geração. A Nintendo mostrou o porque de um super, enquanto a Sega não mostrou o porque de um mega, mas mostrou fácil o porque de um master.
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