top of page
  • Rudy Rafael

Apequenando-se torcendo pelos pequenos

Acompanhando a Copa do Mundo percebe-se bem o quanto o cidadão comum se identifica com os times pequenos, com os times sem tradição, sem camisa, sem títulos, que jogam mal, que não se impõem, com baixa-estima e sem grandes ambições. Quanto pior e menor o time mais o povão se identifica e torce. É o levante da plebe contra a nobreza. Tendo suas vidas reservadas em servir de ascensão para os proprietários dos meios de produção nada lhes resta além da “vingança” pacífica no esporte. A vitória de um time pequeno contra um grande é a vitória da povo contra a aristocracia. O ódio dos humildes contra os arrogantes é o ódio dos pobres contra os ricos, da plebe contra a nobreza e o futebol espelha bem isso. Os vencidos na vida se vendo nos vencidos no esporte e assim vendo a si mesmos. O problema é quando passam a querer ver os times grandes fora da competição e preferir os pequenos, os times sem expressão.

A situação torna-se opressora ao cidadão comum que sacrifica a única coisa que o futebol, em especial a Copa do Mundo, pode lhe dar: a emoção de acompanhar um jogo; por nada. A pessoa que torce para o time pequeno se classificar, em detrimento do time grande, não visualiza que nas próximas fases terá que ver jogos mais fracos com este time pequeno pelo que tanto torceu ao invés de ver jogos melhores com os times grandes. Neste ponto, além da análise técnica importa a emoção que desperta cada jogo de futebol, em que um duelo contra uma Espanha seria muito melhor a quem assiste do que contra uma Suíça e assim, não há porque torcer para os grandes saírem. Preferir torcer para um time pequeno, que se acovarda em campo e joga na retranca com 11 jogadores atrás da linha bola, que joga esperando uma única bola, um gol de bola parada, que não entra para fazer gols mas para não levar; do que ver os grandes, que vão pra cima e arriscam?

A pequenez onde a pessoa prefere ver o próprio time que torce enfrentar um time fraco ao invés de um forte. Existem coisas que não servem de nivelamento; bater em cachorro morto não é motivo de orgulho pra ninguém e vencer times pequenos e sem prestígio também. O que faz de um time um grande campeão é quem ele venceu e quanto maior o adversário maior a vitória. Alguns torcem para que o seu time enfrente os piores adversários possíveis para que fique mais fácil conseguir o título ao invés de enfrentar os mais difíceis e ser campeão em cima destes. Preferem ver o seu time numa final contra Honduras, Coréia do Sul ou Nova Zelândia do que contra Argentina, Alemanha ou Itália. Se importam mais com um caneco de metal que irá ficar exposto no salão de glórias de uma entidade do que com a sua emoção ao assistir um jogo como estes. Para pessoas assim não importa que tenha sido campeão vencendo os piores times, o que importa é ser campeão.

É sabido que o sistema da obrigação dos resultados chegou ao futebol e hoje não importa mais como um time vença mas que vença. Entretanto, o cidadão comum carece de pragmatismo ao desconsiderar que para ele a única coisa que ganha é a emoção de assistir o jogo, nada mais que isso. Independentemente de quem ganhe a Copa, quem vai lucrar com isso são os jogadores, não os torcedores. A emoção do jogo é o que sobra ao torcedor e é o que vai fazê-lo sofrer, chorar, pular, gritar, espernear, berrar, perder o sono e sentir com uma final contra uma Argentina, Itália ou Alemanha e que ele daqui há 50 anos vai dizer aos seus netos: “Eu vi este jogo”; que ele tanto não teria orgulho como não lembraria de dizer que viu e se sentiu algo se fosse contra uma Turquia ou Coréia do Sul, semi-finalistas de 2.002. O que ficam nas lembranças e que carregamos em nossas vidas são as alegrias e tristezas e é melhor sofrer com uma derrota do que não sentir nada com uma vitória.

Preferir que classifique África do Sul ao invés de França e Uruguai, Nigéria no lugar da Argentina, Argélia à Inglaterra, Austrália à Alemanha, Japão à Holanda, Nova Zelândia à Itália, Coréia do Norte no lugar de Portugal e Honduras à Espanha mostra o quão dormente está o povo que não aproveita a única coisa que tem para aproveitar em uma Copa do Mundo: a emoção e a história do jogo. Já que não vão ficar ricos e as contas não desaparecerão, que aproveitem o que podem aproveitar na Copa, a emoção de ver jogos épicos entre os grandes do futebol, entre Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, França, Inglaterra, Espanha e Holanda; jogos que se não tiverem a melhor das técnicas ganharão em emoção, vontade e história. Que aqueles que de um jogo de futebol só podem usufruir do jogo de futebol compreendam que quanto maior e melhor o jogo, melhor será para eles mesmos.

0 visualização0 comentário
bottom of page