Pior que todo ano ter que conviver com o espírito do BBB que paira no ar é ter que conviver com as milhares de pessoas que falam mal de BBB. Há pessoas que passam mais tempo falando mal do programa do que os que assistem ao próprio. Os milhares de rebeldes anarco-punks-socialistas-against-Coca-Cola que falam tanto da alienação do programa e que acordam todo dia no mesmo horário para trabalhar para enriquecer os donos de empresas e fábricas e pagar seus impostos tem até argumentos interessantes para falar mal do programa: “Big Brother aliena”. Não falam e não precisam falar mais nada. Dizer que algo “aliena” é o máximo da técnica de síntese, iluminação, genialidade, inteligência e divindade. O programa passa a ser até interessante na medida em que a dinâmica é o enclausuramento e a abordagem do homem como animal social.
Como o homem se comporta quando está preso, com outras pessoas, com mais ou menos pessoas do mesmo sexo, com mais ou menos comida, mais ou menos espaço, etc.etc. e etc. Interessante porque em um momento onde o homem começa a exploração espacial e as experiências com a nanotecnologia um programa como o Big Brother pode servir de maravilhoso laboratório de experiências onde ao invés de testar com ratos, testa-se com pessoas. Na última simulação de uma viagem à Marte os enclausurados tiveram que ficar isolados por um período de 105 dias sendo que uma viagem real duraria 245 dias aproximadamente. Se os cientistas precisam analisar o comportamento do homem em situação de isolamento duradouro, reality shows é que não lhes falta para tal análise. Os reality shows (programas na dinâmica do BBB) estão pelo mundo todo, onde por mais que se mude a forma (casas, fazendas, etc.), o princípio é o mesmo: isolamento dos participantes.
Tal tipo de experiência pode servir para muita análise feita por cientistas que ao invés de terem que olhar ratos agora podem sentar em frente à tela e ver pessoas; o que irá conferir muito mais acertos em suas conclusões. A dinâmica do programa, onde o expectador decide coisas, é uma boa adaptação ao subconsciente de cada pessoa. O controle sobre a vida do outro que até então era repudiada de forma inquisitiva poderá começar a ser aceito, pouco a pouco. Hoje você decide quem fica e quem saí da casa, com isso, você decide como a pessoa se porta na casa pois ela terá que se portar da forma que você quiser pois você tem o controle sobre a situação. Depois você poderá decidir a roupa que ela veste, com quem ela fica, o que ela come, que horas dorme, que horas acorda e assim aos poucos a idéia de controle da vida de uma pessoa por outra acabará sendo aceita por todos como algo comum.
O método para controle mental já existe e chama-se nanotecnologia. Este é o tipo de coisa que precisa ser feito aos poucos, as pessoas precisam ir se acostumando. Se chegassem para o mundo e mostrassem uma forma de controle mental hoje seria inaceitável, o homem médio não aceitaria em hipótese alguma, considerar-se-ia praticamente um crime contra a humanidade, então, altera-se o homem médio, modifica-se o homem médio através da mídia, da tv, da internet, pouco a pouco o homem vai mudando sua forma de pensar e quando se muda o pensamento se muda a realidade. A nanotecnologia pode chegar a controlar a mente de uma pessoa através da manipulação de neurônios o que é chamado de “neurociência cognitiva”. Como as pessoas estarão tão acostumadas a ditar a vida dos outros através do controle da tv, do telefone, do click do mouse, isto se tornará algo natural onde não existirá qualquer impedimento moral e a moral e os costumes que criam as leis.
Se a maior parte do povo achar natural o controle mental podem criar uma lei permitindo; democracia é isso: a maioria manda. Da mesma forma que assistindo o programa e tendo a idéia de que todos são vigiados por câmeras o tempo todo as pessoas começam a esquecer de seus direitos e garantias fundamentais como a privacidade. O modelo de vida da sociedade objetivando sempre o dinheiro para conquistas materiais faz com que as pessoas já nem se preocupem mais com sua privacidade, em serem vigiados, controlados e monitorados, o que importa é o dinheiro no final. Poderá chegar a época em que haja câmeras por todo o lado, até em suas próprias casa, onde as pessoas serão vigiadas e monitoradas em tudo que fazem mas já estarão tão acostumadas com isso, pois já viram tantos BBB´s, que já não lhes fará diferença.
Estarão acostumados. O subconsciente terá absorvido. “É assim e pronto”. Isto pode parecer utopia agora, mas quanta coisa de hoje, vista no passado, não era utopia? Quem há 60 anos atrás, quando os computadores ocupavam salas inteiras, imaginava um notebook? O quanto a ciência evoluiu nos últimos 20 anos? Para o “povo”, a “massa”, existe a verdade que é mostrada na tv, os reality shows como programas de entretenimento, como mera diversão, mas ninguém pode saber o que acontece de verdade por trás das câmeras, qual o verdadeiro propósito de tais programas. Qualquer um pode pensar: se você fosse um cientista e tivesse que fazer experiências sobre comportamento com seres humanos, iria preferir utilizar ratos em jaulas ou os próprios seres humanos? Os reality shows como fontes de orientação moral de comportamento social tenderão a mudar a visão que o homem tem de si mesmo e dos outros. Ser controlado e controlar, ser vigiado e vigiar, ser monitorado e monitorar, será cada dia mais visto como algo natural e a resistência ao controle e cerceamento da liberdade já não terá mais tanto porquê.
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