- Rudy Rafael
Carniceiros espirituais e seu faro para o podre
Há pessoas que só percebem coisas podres. Só vêem as coisas ruins de tudo e de todos. As coisas boas que as pessoas fazem e que acontecem na comunidade não são vistas por elas. Quando acontece algo positivo com alguém ou alguém faz algo positivo para os outros e para a comunidade em que vivem ou comungam, estes carniceiros espirituais não percebem nada disto, só quando se tratam de coisas ruins. Basta ocorrer uma briga, um barraco, um acidente, um crime e uma morte que lá estarão; olhando, ouvindo e cheirando a atmosfera podre, a qual é a única que os seus sentidos conseguem perceber. Quando algo vai bem com as pessoas e o grupo elas não se manifestam, apenas quando a coisa está podre. Para elas não existe o prazer em fazer parte das coisas boas, apenas das coisas ruins.
Com os carniceiros espirituais é assim, se uma pessoa tem milhares de ações positivas e em um momento comete um erro, eles desconsideram todas as milhares de ações positivas que a pessoa fez e se foca na negativa. Se o grupo que ela faz parte está envolvido em milhares de ações positivas e construtivas ela não se manifesta, não participa, se omite e apenas observa de longe, mas basta um único momento em que haja algo negativo neste mesmo grupo de tantas ações positivas e construtivas para que ela entre vomitando todo o seu discurso moralista. Para os carniceiros espirituais aquilo que dá certo, o positivo, o construtivo e o edificante não interessam, isso não lhes cativa; para eles o que importa é a carniça energética; o caos, a discussão, o conflito, o desarmônico e o negativo.
Infelizmente, e para o azar de muitos, acreditar não faz verdade. Dizer o que quer que seja a si mesmo, a Deus e ao mundo não fará disto verdade. Pode-se gritar, espernear, berrar, cantar, gesticular e sapatear, mas a verdade sempre será o que é e não aquilo que se quer fazer pensar ser. Quando se fala no estado de ser mais ainda. O ser humano, como animal filosófico que é, acaba sempre suprimindo sua essência em favor da razão e cuja linha de pensamento é escrita e concretada por outrem. Raciocínios, lógicas, premissas, aforismos, máximas, dogmas e doutrinas incrementam o boneco de barro animado pelo sopro tornando-o a vitrine do que querem que seja. Muitas verdades e muitas inverdades. O homem anseia pela inexpressão do seu verdadeiro Eu e a sociedade a todos dá isso.
A necessidade de reinvenção, e que faz girar os mesmos princípios pintados de formas diferentes, tornou a fé em pensamento positivo e em postura mental adequada. A incredulidade virou envenenamento mental. Sempre a mesma coisa. Aqueles que se orgulham da carga que carregam, pois foram coroados reis por isso, alegram-se pela pregação destas doutrinas e as alienam pelas garantias das bem-aventuranças esperando que o mundo se torne um lugar melhor. Se um religioso não faz o que sua religião diz é hipócrita e se um não-religioso não vive o pensamento positivo que prega nada é. O pensamento positivo que está em todo canto sendo utilizado apenas como escape de discursos moralistas e auto-indulgentes adequou-se à arte do fingimento de crenças. Prega-se uma coisa e vive-se outra.
A opressão do intelecto subnutrindo o ser e criando deficientes astrais desencabulados de vandalismos psíquicos disfarçados de pregadores da moral, dos bons costumes e do refrigerante light. Carniceiros espirituais esperando o moribundo para fartar-se do podre e do fétido. Pessoas que vivem gritando ao mundo os benefícios do pensamento puro, mas que destinam-se ao enxofre por não viverem o que pregam, deixando-se catequizar apenas pelo que lhes convém. Abutres de almas, que navalham doutrinas na carne e cujos sentidos não conseguem perceber nada além daquilo que satisfaz seu desejo inato e insano pela imundície e pela abominação. O fracasso da alma destinada ao inferno da supressão da agudeza do Espírito e que só percebe e participa do ruim e do falho.
Têm boca de onde apenas a acusação, o julgamento, a condenação e a execução se fazem ouvir. Tem olhos que só enxergam as sombras dos erros e cujas pupilas dilatam-se à vulnerabilidade da luz dos acertos. Ouvidos dispostos às maldições, desgraças e intrigas e surdos para as boas novas, alegrias, comunhão e paz. Narinas apaixonadas pelo caos e faro aguçado pelo podre e fétido e para o ar corrompido da desarmonia. Sentidos orientados e satisfeitos pelo que há de errado, potencializados pelo gozo do Ego demoníaco da destruição e do caos. Pessoas que se atraem e são atraídas pelo falho de tudo e de todos e que se tornam carniceiros espirituais dependentes de sua sede pelo abominável e que passam desapercebidas por suas vestes morais caiadas de intelectualismo frigído.
O pensamento positivo é o comprometimento em adotar uma postura positiva em relação às pessoas e ao mundo, é ter a desenvoltura e a percepção para ver e focar-se nas coisas positivas das pessoas, não naquilo que seus julgamentos decorrentes de suas limitadas percepções e sua escolha mental entendem como errado. Pensar positivo é reter o que é bom em tudo e todos e deixar de lado aquilo que julgou como ruim. É participar daquilo que funciona na sociedade, daquilo que dá certo e daquilo que une. É aproveitar os momentos em que as pessoas fazem as coisas darem certo e ali mover esforços; é ficar feliz pelo que dá certo, não fascinado pelo que dá errado. Pensar positivo é sentir positivo. É abstrair, sentir e perceber as coisas boas das pessoas e do mundo, filtrando as consideradas ruins e isolando-as. Não existe lição de moral com o pensamento positivo aplicado.
Pensar positivo não é ser cego e de forma alguma é fechar os olhos para o que há de errado nos outros e no mundo; entretanto, a diferença está na forma com que isso se manifesta e o que fazer com isso. Vez ou outra ver algo de ruim em alguém e somente ver coisas ruins são situações bem diferentes. Se a pessoa só vê coisas ruins nos outros e não consegue ver as coisas boas, o problema está nela e em sua incapacidade de abstrair as coisas boas das pessoas. O pensamento positivo não é só ficar tentando enganar o subconsciente com rezas de “Eu sou”, “Eu posso” e “Eu consigo”, como muitas pessoas dizem. O pensamento positivo é a fé em acreditar nas pessoas, em acreditar que todas elas são expressões do mesmo sopro divino e que são capazes de realizarem coisas boas. As coisas boas devem ter mais foque do que as ruins, por isso o pensamento é positivo.
O Ego atua fazendo com que as pessoas só vejam os defeitos e as coisas negativas das outras. Para o Ego, ninguém além dele mesmo é capaz de ter nobres virtudes e qualidades positivas e não existe ninguém melhor que ele. Assim a pessoa torna-se incapaz de ver coisas boas nos outros e incapaz de focar-se nelas. Algumas vezes a pessoa até vê coisas boas nos outros, mas as coisas negativas para ela têm mais força e acabam chamando a atenção, porque a pessoa, mentalmente, pela ausência de pensamento positivo, está vibrando na mesma faixa, há a atração vibratória entre mente e pensamento. A pessoa não se interessa pelas coisas boas dos outros porque ela não vibra na faixa das coisas boas e com o discurso moralista ela ainda faz achar que o problema é com os outros e não com ela; a negação, um mecanismo de defesa do próprio Ego.
Gostar mais de estar em meio à desunião do que a união, preferir participar do caos à harmonia, sentir mais vontade de apontar os erros dos outros do que os acertos, ver mais as coisas ruins de tudo e todos do que as coisas boas, atrair-se mais pelos infortúnios dos outros do que por suas felicidades, sentir-se melhor em participar de discussões inférteis de egos do que de compor idéias de fraternidade, tornar-se indiferente pelo que as pessoas fazem dar certo e ativo naquilo que dá errado meramente com o intuito de criticar e fomentar o conflito são condutas que não condizem em nada com o que é o pensamento positivo efetivo e refletem um verdadeiro carniceiro espiritual, alguém incapaz de construir e cuja única satisfação encontra-se no oposto de tudo aquilo que é bom, belo e harmonioso.