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Rudy Rafael

Deus pegando as manhas com o Diabo

O imaginário popular criou a idéia de que o Diabo é um ser poderoso detentor de poderes sobrenaturais e de que tudo pode dar a todos e exigindo em troca simplesmente a alma da pessoa. Deus e o Diabo em um joguinho de quem leva mais ovelhinhas pro seu pasto. O Diabo com sua varinha mágica tentando seduzir os homens satisfazendo seus desejos para poder levar o maior número de almas para o inferno. Deus e o Diabo, cada um de um lado puxando por um braço, vendo quem leva a alma para o seu habitat. Acredita-se então que a existência humana se resume a uma passagem temporal no plano terrestre como único meio de provação prolixa pelo tempo ínfimo em comparação à eternidade, onde será decidida a vida eterna entre um lugar de paz, harmonia e riquezas ou de outro de dores e ranger de dentes. O Diabo oferecendo riquezas, poder, prestígio e sexo para cativar o vestibulando.

Deus até pouco tempo atrás não oferecia nada. A doutrina cristã da renúncia do plano material, cujo próprio cristo, Jesus, serviu de exemplo ao rejeitar as ofertas do Diabo, iniciada com os gnósticos cristãos primitivos, passando pela Igreja Católica Apostólica Romana, cátaros, templários em sua origem, luteranos e até os pentecostais, sucumbiu à investida do Diabo. As igrejas neopentecostais evangélicas não resistiram à varinha mágica do Diabo e agora já não basta a promessa da vida eterna, é necessário satisfazer os anseios materiais das pessoas. Assim como o Diabo utilizara da sedução da satisfação dos sentidos agora Deus também o faz. Antes as pessoas iam à igreja para se livrarem do inferno através do passe-Jesus; hoje vão para buscar bens, fortunas e satisfação dos sentidos. A salvação não precisa mais ser trabalhada pois a presença nos templos e o comprometimento com a causa já salva.

De um lado as pessoas buscam o Diabo para conseguir amores e sexo, de outro, vão na igreja para pedir um cônjuge. O Diabo promete carros, mansões, aviões e iates; Deus, através dos propósitos e ofertas, também. A ação necessária para a reação do que buscam foi dogmatizada em dois critérios, um objetivo, a oferta, e outro subjetivo, a fé. O critério objetivo não traz dilemas, pois o próprio sacerdote impõe o valor. Quanto mais a pessoa quer, mais ela terá que dar; assim como os que fazem trabalhos de magia negra. No subjetivo, a fé. Se a pessoa não consegue o que quer “é porque faltou fé”. Assim como na magia negra os que fazem o ritual chegam a dizer que o sacrifício não foi suficiente pedindo mais oferendas nas igrejas cristãs é a mesma coisa. Se a pessoa não obtém êxito no pedido aumenta-se o valor ofertado. As pessoas simplesmente trocaram os centros de magia negra pelas igrejas para conseguirem o que querem.

Deus deixou de ser um refúgio para a alma e espírito para se tornar um realizador de desejos assim como o Diabo. O Diabo pede para dar, Deus também. O “Deus do ouro e da prata” seduz os que precisam de bens materiais para terem aceitação social. As pessoas buscam reconhecimento pelo carro, pela casa e pelas roupas que vestem e nas igrejas cristãs, em especial as evangélicas, é a mesma coisa. O cristão que segue a Cristo, pelos próprios exemplos de renúncias de seu mestre, deveria ser realmente diferente, mas não é. Por isso esta entrega à busca por bens materiais. Não buscam mais em primeiro lugar o reino de Deus, mas alternativamente. Pensam que por freqüentarem templos e fazerem acordos chamados “ofertas” e “propósitos” já estão buscando, e alcançando, sua salvação. Na ferrenha disputa pela alma do homem o Deus evangélico se viu na obrigatoriedade de usar das mesmas artimanhas do Diabo, a sedução pela realização de desejos.

O medo do inferno é cada vez menor e já não cativa tanto as pessoas na igreja como antes, daí a necessidade de aprisionar as pessoas naquilo que elas têm de mais fraco: a ambição e a mesquinharia. A necessidade do alimento da alma e do espírito nunca segurou ninguém em igreja cristã alguma. Sempre foi o medo do inferno. Ninguém vai à uma igreja cristã porque quer Deus mas porque não quer o inferno e agora podem unir o útil ao agradável; livra-se do inferno e ainda corre o risco de ganhar o carro do ano pra chegar no estacionamento da igreja e todos verem, ganhar o namorado dos sonhos que toda mulher quer, a namorada dos sonhos que todo homem quer, a mansão para poderem convidar as amigas da igreja para tomarem um café e mostrarem tudo aquilo, o salário dos sonhos. Deus agora é um realizador de sonhos assim como o Diabo um mestre dos desejos.

O Deus evangélico aprendeu que na guerra vale tudo e se é para vencer o Diabo no quantum de almas de seu panteão vale prometer e dar o que for. O pentagrama invertido, símbolo do Diabo, do satanismo e da maestria dos elementos sobre o homem, serviu de inspiração para Deus. Deus aprendeu com o Diabo como se faz para ganhar as pessoas. Basta satisfazer o verdadeiro desejo se seus corações. Corações apegados à matéria e à carne, aos bens materiais, à necessidade de aceitação e aprovação social pelo que têm e vestem. O Deus que não muda teve que mudar, resolveu ingressar no leilão das almas onde quem dá mais leva. O reino de Cristo, que não é deste mundo, teve que dar um jeitinho e fazer-se valer neste mundo pois é aqui que está o tesouro dos homens e aqui está o seu coração. A paz espiritual de Cristo deu lugar à escravidão da busca da realização de desejos materiais.

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