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Rudy Rafael

O problema dos Virgens

Assim como o trabalho dá a sensação de utilidade o sexo cria a idéia inconsciente de eternização da espécie. Biologicamente somos apenas um mecanismo de perpetuação de genes. O conceito de vida abrange o nascer, crescer, reproduzir e morrer. O sexo faz parte da vida e a vida usa o sexo. Apesar de toda sua importância o sexo vem sido moralizado de uma forma dogmática que cerceia a liberdade de cada um pensar por si. Em um mundo já pensado o sexo também já o foi e ir de encontro desta força resulta em grande incompreensão por parte do cidadão comum. Toda forma de moral e valor possui uma resistência absoluta à mudança e deve ser assim por se tratar de instituições básicas e ocultas do animal instintivo que acordou em ser animal social: o homem. Tanto o trabalho como o sexo dão sentido à vida pois geram a própria vida e não é recomendado que se tente tirar o escopo principal do homem comum sem que possua o artefato de sua substituição. O trabalho e o sexo são os baluartes com os quais se mantém o mínimo da civilidade no homem deve ser assim a título de preservar o contrato social.

A sociedade como organismo inconscientemente vê cada indivíduo como forma de perpetuação do seu próprio corpo e acaba influindo no coletivo a necessidade da reprodução e diante disto o sexo acaba se tornando um dever e uma moral social. A sociedade quer que se faça sexo não porque ela fica feliz com o gozo alheio mas porque ela precisa que se faça sexo para sua própria perpetuação. As resultantes deste processo geram as falácias dogmáticas que gerindo o pensamento coletivo não lhes possibilita ter o livre-arbítrio de suas próprias funções fisiológicas sem que vá de encontro à esta força. Por isso que o homem que não transa é taxado de “virgem” “cabaço” e a mulher, em alguns casos, de “frígida”. A sociedade empurra todos para o ato sexual sem saber porque mas o faz e quem bate de frente com esta moral de dever transar sofre as represálias. O virgem que não tendo relações sexuais não dá causa à reprodução é uma expressão disto.

No meio masculino o virgem é tido como um erro, uma aberração social que deve ser “consertada”. O homem virgem carrega com si um fardo moral como se fosse um criminoso e acaba sendo visto como um partindo do ponto em que não tendo relações sexuais não irá se reproduzir, como se fosse um crime contra a humanidade não perpetuá-la. Este tipo de situação acaba ilustrando uma sociedade aleijada e decadente dos próprios princípios que se esqueceu do porque do porquê. O homem “para ser homem” basta que tenha relações sexuais pouco importando que ele assuma os seus atos, que pague as próprias contas e lave a própria cueca. Há homens que se acham homens por inserir um músculo em outro músculo mas basta ter que encarar os efeitos de suas próprias ações para que se escondam debaixo da saia da mãe, vivendo às custas do pai e não possuindo o menor senso de auto-suficiência. Enquanto isso o virgem que desde cedo sabe de suas responsabilidades para consigo e com a sociedade, trabalhando, estudando e se dedicando a algo construtivo, é tido como “o erro” somente por não transar e que precisa ser “consertado” urgentemente.

Da mesma forma que entre os homens existe a rejeição pelo virgem no meio feminino o mesmo princípio está inserido não raras as vezes em que da mesma forma. A mulher também é incitada ao sexo pelas amigas. Em um grupo feminino manter-se virgem é excluir-se da egrégora onde a mulher virgem acaba sentindo-se, e sendo, pressionada a perder a virgindade para que volte a comungar com a igualdade do grupo. Este tipo de pressão naturalmente ocorre menos do que entre os homens até mesmo porque para a mulher o sexo é algo mais íntimo e que se mantém mais preservado mas ocorre e de forma que atenta contra a expressão individual do ser. A pessoa consciente e que verdadeiramente se importa com a outra jamais irá pressionar uma pessoa a ter uma relação sexual que não queira ainda mais uma mulher que naturalmente precisa de mais envolvimento emocional para sentir-se livre para tal. Alguns homens reclamam de suas namoradas virgens que não lhes querem “ceder” mas estes mesmos não criam o mínimo ambiente de confiança e envolvimento para que a mulher se sinta segura do que faz e a mulher que não se sente bem com um homem está mais do que certa em não transar. Para a mulher muito mais do que o momento perfeito, a situação perfeita e o lugar perfeito é a pessoa perfeita.

A problemática intelectual se apresenta ao homem e à mulher que acabam sucumbindo à esta pressão e que tendo abalada a sua convicção praticam o sexo sem consciência. A escolha do sexo como meio ou como fim vai depender da moral ditada e do grau de resistência de cada um à esta força. Sendo o sexo utilizado como meio de perpetuação da espécie incorreria em niilismo e o problema maior, então, seria a destituição da moral socrática que não separaria o homem do animal. Não haveria diferença entre o homem e o animal onde ambos seriam movidos somente por instintos. O sexo então não teria sentido e as pessoas transariam apenas porque são movidas por um impulso social. Esta situação teria o amparo do sexo como nivelamento social. A sociedade vai nivelar as pessoas por quem faz mais ou menos sexo. Pode parecer uma sistemática maquiavélica mas ao observar que tudo passa por nivelamento (quem tem mais dinheiro, quem é mais bonito, quem é mais inteligente e etc.) não seria uma missão impossível manter sua própria escolha. E, tendo o sexo como fim haveria a desconsideração da inconsciência, dever e moral e da busca do sexo pelo sexo. Se faz o sexo não porque queira-se mostrar aos outros que o faz, porque é ou se sente obrigado, mas porque escolheu.

A moral sexual também se utiliza de falácias que nada mais representam os fins justificados pelos meios. Se a assertiva carece de validade ou não pouco importa o que vale é fazer as pessoas transarem mesmo que por meio de tendenciosas insinuações como “quem não transa não sabe o que é ser feliz”, “quem não transa é um derrotado”, “quem não transa é inferior”, “você não pega ninguém”, “você não é homem até que perca a virgindade”, “você não sabe o que está perdendo” e etc. Esta pressão social nada mais objetiva do que a perpetuação da espécie e o virgem convicto de suas escolhas ao ser pressionado deve ter ciência disto e se não quiser servir de mero objeto de reprodução de genes deverá ser firme e forte naquilo que se propôs. O sexo é uma forte instituição moral que cumprindo sua função social não pode ser desestruturada sem uma boa base, porém, não se tornando inválida uma sensata forma de resistência à idéia desde que respaldada em coerente motivação.

O homem e a mulher virgens não devem ser nem se sentir obrigados a transar. É necessário evocar um certo socratismo para não cair no niilismo de ver o homem como mero perpetuador da espécie. A pessoa deve ter o direito de escolher transar quando, com quem, como e da forma que (e se) quiser e não sendo possível inserir novos elementos no moldado pensamento coletivo que insere esta obrigação o virgem deve formar uma forte identidade e personalidade para não se deixar oprimir pelo grupo. Se não é possível mudar o grupo que o indivíduo seja forte de resistir ao grupo. O homem não deve servir de mero meio de perpetuação de genes para uma sociedade que não o serve. A pessoa que transa por sentir-se obrigado inconscientemente está sendo mero fantoche do meio que precisa dele para eternizar-se. Ter relações sexuais deve ser ato de consciência não de obrigação, de dever ou de moral. Deve ser ato de escolha acima de tudo. Maior é o virgem que escolhe ser virgem do que o que transa por sentir-se obrigado e sem saber porque o faz.

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