Quedando-se inerte à vida o vagabundo não pensa, ele acha. Caso pensasse não seria vagabundo. A primeira consideração a ser feita sobre qualquer pessoa que fala sobre espiritualidade é se esta paga as próprias contas. Todo e qualquer blablablá sobre espiritualidade ecoado por um parasita deve ser sumariamente descartado, pois este intimidade alguma tem com a espiritualidade para que dela possa querer dispor. A ignorância, a hipocrisia e a má-fé acompanham os sanguessugas que acham que podem falar sobre espiritualidade e aquele que quiser buscar efetivamente o desenvolvimento espiritual não pode perder o seu tempo com o nada, eis que dos vagabundos nada espiritualmente útil sai. Vagabundos são sempre escravos de outrem e escravos não têm como ensinar alguém a se libertar daquilo que eles mesmos são cativos.
Um dos princípios mais básicos da espiritualidade é a liberdade. Através da busca adquire-se o conhecimento que liberta da ignorância. Deus, a Luz, é o conhecimento, a liberdade. O Diabo, as Trevas, é a ignorância, a escravidão. A Terra vive em guerras em razão da escravidão. Em todo lugar um quer escravizar o outro, seja material, emocional, intelectual ou espiritualmente. A pessoa espiritualizada não escraviza, não se deixa escravizar e tampouco aceita a escravidão alheia. O vagabundo é escravo, escraviza e aceita a escravidão alheia, pois depende de alguém para sobreviver e sendo escravo deve primeiro ver-se livre para depois querer libertar os outros. Na espiritualidade, assim como na vida, uma pessoa jamais pode querer pregar aquilo que não vive. A mudança é pela vibração e é o exemplo que faz vibrar, não as palavras.
Se o cidadão que fala sobre a espiritualidade, mesmo tendo plenas condições de trabalhar e prover o próprio sustento, se entrega à vagabundagem se transformando apenas em mais um come-dorme vivendo às custas dos outros, ele de fato não sabe o que é a espiritualidade, pois vive na escravidão, é hipócrita, por não viver o que prega, e age de pura má-fé, deixando-se ser sustentado pelos outros sendo um verdadeiro encosto. Estas pessoas, que se não fosse pelos outros não teriam nem papel para limpar a bunda, dizem que os outros dormem espiritualmente, quando na verdade os outros acordam cedo para trabalhar enquanto elas ficam dormindo. Naturalmente que alguém assim não tem a mínima aptidão até mesmo para falar que reencarnação existe, pois se soubesse disto saberia que a sua vagabundagem trará os frutos resultantes da vagabundagem.
Neste mundo, neste plano onde há divisão, cada um cumpre o seu papel na Grande Obra para este mundo, para este plano, e a Obra é o trabalho. Amar a Deus é ajudá-lo cuidando da sua obra, sendo jardineiro do seu jardim, trabalhando, cuidando, fazendo e agindo. Cada pessoa nasce com um propósito, uma função, um trabalho a ser feito para a humanidade e para a evolução interna. Ninguém ajuda a humanidade e a si sendo um vagabundo come-dorme que depende dos outros para viver, ficando sem fazer nada, só dormindo, comendo e arrotando o que diz ser espiritualidade. O cachorro faz o seu trabalho de latir ao perceber um estranho se aproximando da casa e até os vermes fazem o seu de decompor os corpos dos cadáveres. Seria vergonhoso para uma pessoa comprovar que é menos útil ao mundo do que um cachorro ou um verme.
Quando se diz que o conhecimento liberta não se trata apenas de uma alegoria ou de um simbolismo, a questão é literal mesmo. A pessoa que aprende se liberta e se torna autossuficiente, não precisando mais da outra que antes fazia aquilo por ela. Quem ama luta para tornar a outra pessoa plena, independente, livre. Ninguém é feliz e realizado dependendo dos outros. Quem aceita pacificamente a situação de dependência tem um espírito atrasado por demais. Por mais que a apatia da alma convença, o espírito não foi criado para isso. O espírito anseia por expansão, não restrição. Quem nas trevas está mantém a outra refém na prisão da dependência, fazendo-a sempre dependente dela para que assim ela possa exercer a escravidão e conviver com o seu próprio medo. Tudo sempre é questão de escolha: ensinar a pessoa para que ela possa se virar sozinha ou mantê-la presa fazendo para ela.
O sentimento de prisão é inerente ao próprio estado de estar encarnado. O espírito que outrora vivia fora da matéria naturalmente se sente preso dentro do corpo físico em que está e se existem situações que não podem ser evitadas, apesar de que devem ser aceitas para que sejam transcendidas, existem vivências que podem, como a escravidão. A espiritualidade não é apenas ficar falando de mundo cor-de-rosa com pessoas de mãos-dadas cantando Imagine e falando de Amor o tempo todo uma para a outra. A espiritualidade efetiva é libertar, dar independência, fazer as pessoas sentirem-se e serem livres, fazer com que ninguém seja escravizado por qualquer tipo de dependência ou opressão, seja material, emocional, intelectual ou espiritual. Dependência é restrição, restrição é escravidão e a espiritualidade é liberdade. Falar de espiritualidade vivendo de mendicância não existe.
A espiritualidade prática é fazer com que a outra pessoa compreenda que ela deve trabalhar para ter o próprio sustento e não ter mais que ficar pedindo dinheiro para os outros, o que lhe dará honra e dignidade ao se olhar no espelho. É fazê-la entender que deve ficar com uma pessoa unicamente por Amor e que qualquer relação que tenha a mínima fumaça de opressão e escravidão deve ser evitada. É motivar as pessoas para que procurem mais aprender a fazer as coisas do que preferir que outros façam por elas. É mostrar que ninguém precisa seguir alguém ou grupo espiritual algum, mas unicamente o seu coração. Isto é liberdade, isto é espiritualidade. A pessoa que se diz voltada à espiritualidade e que ao invés de libertar os outros os mantém cativos de seus supostos conhecimentos está servindo ao outro lado, pois é lá que está. Amar é querer ver a outra pessoa plena, não restrita.
Aqueles que tendo condições de trabalhar e se sustentar e mesmo assim não o fazem estão em uma rede de escravidão. Sendo escravizados pelos seus Senhores que lhes sustentam, escravizando as pessoas que lhes sustentam (ninguém por opção sustenta vagabundo) e nada fazendo contra a escravidão, já que a vivem e à abraçam, estas pessoas não têm como falar qualquer coisa sobre espiritualidade. Por sua ignorância da própria espiritualidade, que é libertação, sua hipocrisia, por não viver aquilo que pregam, e por má-fé, sendo que vivem imotivadamente às custas dos outros, não possuem legitimidade para falar do que é do espírito. Um cego não pode guiar outro cego e antes que alguém queira acertar a vida dos outros deve acertar primeiro a própria. Se a pessoa não consegue gerir a própria vida, muito menos poderá palpitar sobre a do outro.
No mundo atual as pessoas que nada têm a dizer têm liberdade para falar o que quiserem e assim muitos falam muita coisa. Sábios e gênios sobre toda sorte de assuntos não faltam, ainda mais sobre a espiritualidade; mas a espiritualidade é mais para ser vivida do que falada. O cidadão que trabalha, contribuindo da sua forma para o coletivo, e se sustenta com seu suor vive muito mais a espiritualidade do que o vagabundo que fica só arrotando mensagens espirituais por aí, mas que é sustentado pelos outros. Viver falando de espiritualidade é fácil; é só não ter o que fazer, falar qualquer porcaria genérica de senso comum com paz & Amor e pronto. Agora acordar cedo pra trabalhar, passar horas no trânsito, suportar tudo no trabalho e chegar em casa tarde e cansado, vagabundo não quer. É fácil ficar falando de espiritualidade quando tem outra pessoa ralando para sustentar a casa.
A espiritualidade também é usada para satisfação do Ego. Há pessoas que se satisfazem pelos bens materiais que possuem, outras pela aparência física, outras pelas titulações acadêmicas e há também as que se satisfazem com a atenção que ganham ao falar sobre a espiritualidade, um terreno fértil por trabalhar com a boa vontade e a fé das pessoas. Entretanto, o buscador ao se deparar com a eloquência encarnada em alguém que fala demais sobre a espiritualidade deve primeiramente questionar como esta pessoa ganha a vida. Se ela tem condições de trabalhar e se trabalha para se sustentar ou se é apenas um come-dorme vivendo às custas dos outros e que fica arrotando sobre espiritualidade o dia todo por não ter o que fazer e por ter quem lhe sustente. Vagabundos acham que podem falar de espiritualidade, mas a espiritualidade nada tem a ver com os vagabundos.
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